quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Um Natal inusitado

Esse foi um Natal que com certeza irá ficar na história (principalmente para mim e minha irmã). Acordar cedo para abrir presentes? Nem pensar! Primeiro o trabalho e depois a diversão. Não é isso mesmo que dizem? Tarefas simples como limpar o quintal, ajeitar a grelha e arrumar a mesa e prender os cachorros no quintal. Até aí tudo bem. A ansiedade começa a falar mais alto. Qual serão os presentes?

Ainda tentei espiar na noite anterior para adivinhar o que cada um iria ganhar. Logo de cara notei duas caixas pesadas com o nome do meu primo. Ele é músico então imaginei que seria algo a ver. Depois algumas caixas com roupas (básico), um perfume e os outros não deu para ter noção do que seria. Fato cômico: minha irmã ainda sonhou que os presentes dançavam na frente dela e pediam para serem abertos (aja imaginação).

Conversa vai, conversa vem e as carnes saindo da grelha. Agora vamos abrir os presentes não é mesmo? Não, ainda tem a sobremesa. Uma torta de morango. E os presentes ali, nos encarando. Assim que o último pedaço terminou, finalmente os presentes e com direito a um Papai Noel não oficial para entregar os presentes na mão de cada um.

Aí vieram as surpresas. De nada adiantou espiar na noite anterior. Se eu soubesse que o tema principal desse natal seria “seja o mais inusitado possível”, eu teria comprado outra coisa. Minha tia ganhou uma árvore de natal em miniatura de sua cunhada. Pelo amor de todos os santos! É uma espécie de lembrete que ano que vem tem outro Natal e que pelo menos um item da decoração já está reservado? Depois foi a vez do meu primo. Não cheguei nem perto de adivinhar. As duas caixas pesadas tinham garrafas de cerveja dentro. Aí vieram os mais básicos: um relógio, camisetas, vestidos, perfumes e bolsas.

Mais ainda sobrava um perto da árvore. “Vai lá abrir. É seu e de sua irmã”. Fui empolgado abrir o embrulho. Sorrindo para a foto até que o presente foi revelado. Um porquinho! Daqueles de colocar dinheiro. Cheio de moedinhas. Detalhe que de manhã ainda estava reclamando o quanto eu odeio andar com quilos de moedas. Tia e mãe rindo por dentro. Ainda fizeram a gente abrir e contar quanto tinha dentro do bendito do porco. Moeda por moeda, separando cada uma delas. Pelo menos uma hora e uns quebrados foram perdidas nessa brincadeira. Mas valeu pelas risadas.

Mas o importante do Natal nem são os presentes. Só de estar perto de quem se gosta já é o bastante. E citando um dos presentes “família não é aquela onde se nasce, mas sim aquela que você escolhe”, palavras sábias e verdadeiras. Então, aproveite bem o que resta do dia, seja com sua família natural ou com a família escolhida, lembrando de guardar na memória cada palhaçada que acontecer. Um dia os filhos e os netos vão gostar de ouvir essas histórias. Ou quem sabe para se vingar você não faça o mesmo com eles.

Boas festas para todos!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Com respeito se vai mais longe

Parece que o Natal emana um efeito mágico sobre as pessoas conforme vai se aproximando. Os vizinhos que nunca falaram com você lhe desejam "Feliz Natal!", um completo estranho ajudando outro cidadão com seus pacotes e por aí vai. É até bom ver as pessoas interagindo umas com as outras, mas pensar que é necessário um feriado para que isso ocorra é um tanto quanto estranho. Pior ainda são aqueles que não estão nem aí com essa data nem com as pessoas.

Nessa manhã fui no shopping para olhar algumas coisas na vitrine (preciso aprender a não deixar as coisas para a última hora). Bom, depois de sair de uma loja continuei andando no interior do shopping, até me deparar com uma cena bem natalina. Um casal estava trocando presentes ao lado da livraria Saraiva (talvez não fossem se ver no Natal propriamente dito, não cheguei a perguntar). A garota, de seus 17 anos e longos cabelos loiros, entregava uma pequena caixa para sua pessoa especial, uma outra garota, morena de cabelos curtos que devia ter aproximadamente a mesma idade. De dentro da caixinha, embrulhada com um típico papel de presente de natal, a morena retirou um chaveiro em formato de visgo de natal. Elas se abraçaram e deram um beijo logo abaixo do recém adquirido visgo.

Uma cena normal. Um casal demonstrando afeição mútua. Até aí tudo bem, mas elas foram meio que obrigadas a parar quando um segurança carrancudo se aproximou delas com certa ignorância dizendo que elas teriam que se afastar uma da outra, caso contrário ele iria pedir que elas se retirassem do local. Fiquei indignado com a situação. Detalhe que não é a primeira vez que vejo isso acontecer nesse shopping, em uma ocasião minha amiga foi a vítima de um segurança.

As garotas se olharam e pegaram seus embrulhos, indo para dentro da livraria Saraiva. Nem discutiram nem nada. Deu para notar que elas não eram do tipo que arruma confusão por causa de gente ignorante. Deixar a situação sem arrumar confusão pode até ser uma ação superior, mas nem reclamar com alguém da administração também não é correto.

Pior ainda é que tinha um casal (hétero) sentado próximo a fonte se beijando, ou devo dizer quase devorando a alma um do outro e o infeliz do segurança nem disse nada para eles. Passou do lado como se nem tivesse visto. Parece que tem gente que ainda não entende o significado das palavras diversidade e respeito.

Para todos aqueles de bom coração desejo um Feliz Natal e para aqueles que são como o segurança mencionado só posso desejar que um dia caiam na real e vejam que o mundo não é mais uma caixa fechada.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Um novo amor sem clichês

É realmente difícil encontrar um filme com temática voltada para o público GLBTT que não possua clichês gritantes. Isso quando a verba é tão baixa que tanto a qualidade quanto a história ficam abaixo da média mesmo para filmes independentes. Por isso quando (finalmente) um filme mostra uma realidade mais possível deve-se aproveitá-lo ao máximo. Tendo isso em consideração a dica da semana vai para o filme Shelter (De Repente, Califórnia), da Here! Films dirigido e escrito pelo cineasta Jonah Markowitz.

Esse é um filme, que assim como O Segredo de Brockeback Montain, mostra que um relacionamento pode surgir de uma hora para outra, mas ao invés de dois caubóis o foco fica em dois surfistas. No filme Zach (Trevor Wright), à esquerda na foto, é um rapaz que abandona seus planos de entrar na escola de artes para ajudar sua irmã a cuidar de seu filho. Zach é obrigado a ver seus amigos indo embora para seguirem seus sonhos enquanto ele fica preso em uma vida que não suporta.

Mas isso muda quando o irmão mais velho de seu amigo chega a cidade. Zach se aproxima cada vez mais de Shaun (Brad Rowe), desenvolvendo uma amizade que acaba por se tornar um relacionamento mais íntimo. Agora Zach se vê em um dilema, permanecer em um relacionamente desgastado com sua namorada ou deixar de lado os preconceitos, dele e da sociedade, para viver um novo romance.

O roteiro mostra de forma verdadeira como muitos adolescentes acabam se vendo quando descobrem um novo lado de sua sexualidade. Conflitos internos, confusão e exclusão social são apenas a ponta do iceberg quando um jovem se ve nessa situação. Nessas horas é sempre bom ter um amigo por perto.

O filme ganhou o terceiro lugar no Festival Mix Brasil de São Paulo e mais alguns outros prêmios dentro da categoria GLBTT. O DVD é difícil de ser encontrado em lojas do Brasil já que a divulgação entre o público não é tão grande.

Bom, está aí a dica do filme que já é o novo marco gay no cinema. E para quem gosta de músicas suaves a trilha sonora também vale a pena de se ouvir.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Febre vampiresca ataca os jovens



Vampiros são seres solitários que vivem em castelos escuros e úmidos, passam o dia dentro de um caixão e esperam a noite chegar para poder caçar jovens donzelas enquanto um caçador os persegue. Essa era a forma como os vampiros sempre eram mostrados em livros e filmes, mas aparentemente eles não são mais assim.

O filme Crepúsculo (Twilight) que teve pré-estréia na noite de ontem foi baseado nas obras da mais nova escritora americana Stephenie Meyer. Na obra o foco pricipal é o relacionamento complicado e intenso entre a humana Bella (Kristen Stewart) e o vampiro Edward (Robert Pattinson). O vampiro jura protegê-la, inclusive de si mesmo, resistindo ao máximo para não se alimentar de sua amada apesar dela desejar o contrário. Esse é Edward, um vampiro mais heróico, meio emo e um tanto quanto vegetariano.

Mas as fãs não se prenderam tanto à história ao decidirem assistir a pré-estréia. "Ao ver o trailer me apaixonei por ele" disse Thais Casagrande, 16, ao sair da sessão. Uma de suas amigas ainda completa "Eu nem li o livro, só vim por causa dele".

O terceiro livro será lançado em breve no Brasil, enquanto na terra do Tio Sam será lançado o sexto. Mas independente da história as fãs ainda vão continuar enfrentando filas de horas para gritar cada vez que Edward surge na tela.

sábado, 15 de novembro de 2008

Os jogos estão de volta


Com seu conceito visionário (e meio destorcido) de redenção a LionsGate traz a quinta parte da saga de Jigsaw, “Jogos Mortais V”. O filme continua exatamente onde o capítulo anterior parou; o detetive do FBI, Peter Strahn, (Scott Patterson)segue as pistas de Jigsaw no intuito de prendê-lo, mas acaba se envolvendo em seus jogos.

Esse capítulo mostra peças que ficaram nas sombras até hoje. As cenas em flashback vão desde o encontro de Jigsaw com seu sucessor até a montagem de algumas das armadilhas redentoras. O detetive Mark Hoffman (Costas Mandylor) aparentemente era a última pessoa a escapar das armadilhas do serial killer mais procurado, mas quando seu segredo fica ameaçado ele precisa se livrar de toda e qualquer pista que possa revelar quem ele é na verdade.

Durante a história ainda se encontram as últimas cinco vítimas de Hoffman. Todos estão presos em uma sala com seus pescoços por um fio, literalmente, e precisam tomar uma grande decisão para continuar com o jogo. Entre uma cena e outra a ligação entre eles vai ficando cada vez mais clara. Enquanto isso Strahn chega mais próximo da verdade.

O roteiro e produção desse filme conseguiram trazer de volta o sucesso que os dois primeiros filmes fizeram. Mesmo com suas mortes elaboradas, marca da saga (e motivo dos fãs irem assistí-lo), o filme prende mais atenção pelo suspense e pela tensão entre os dois detetives.

E só para terminar, lembre-se: Sempre jogue pelas regras. Afinal, nunca se sabe quando uma armadilha mortal vai aparecer.

Os Wild Cats vencendo mais que um jogo



O estúdio Disney trouxe para o público mais jovem a paixão pelos musicais. Quando antes os sucessos eram “Cats”, “O Fantasma da Ópera” e “Grease”, agora quem comanda as paradas de sucesso, seja nas rádios ou nas bilheterias é “High School Musical 3 – Ano da Formatura”.

Nessa terceira parte da história Troy (Zach Efrom) e Gabriella (Vanessa Hudgens) pensam sobre seus respectivos futuros após se formarem, já que podem ficar mais de 1600km de distãncia um do outro. Para aliviar um pouco a sensação de que tudo está terminado eles, juntamente com os outros integrantes da turma resolvem fazer um último musical, com o tema Ano da Formatura.

As coreografias feitas pelo diretor Kenny Ortega têm influência de diferentes estilos. Hip-hop, break e pop/rock surgem a todo momento no decorrer do filme. Alguns passos das músicas “A Night To Remenber” e a cena de “The Boys Are Back” relembram muito John Travolta em “Grease” e “Pulp Fiction”.

Além de tudo alguns cenários do filme se misturam com o cenário teatral conforme certas músicas vão sendo apresentadas. Um trabalho inteligente e bem feito.

A Disney fez bem em lançar apenas esse filme diretamente no cinema. Os fãs já estão acostumados com os personagens e esperam um ápice para o relacionamento de troy e Gabriella. Com um roteiro um pouco mais adulto, músicas que ficam na cabeça por um bom tempo e coreografias elaboradas de forma espetacular, não é de se estranhar que a bilheteria desse filme tenha desbancado filmes como “007”, “Mamma Mia” e “Jogos Mortais V”.

O retorno do espião mais famoso


James Bond (Daniel Craig) volta em sua segunda missão como um agente 00. Em busca de vingança pela morte de Vesper Lynd (Eva Green) a mulher que amava, Bond interroga o Sr. White, integrante da organização que a chantageava. Durante sua investigação, que passa a ser pessoal, Bond descobre que essa organização é maior e mais perigosa do que todos poderiam imaginar.

A sede de vingança coloca o agente secreto britânico frente a frente com a perigosa Camille (Olga Kurylenko), que está ligada com Dominic Grene, um empresário que possui grande influência entre os membros dessa organização, que mantém membros ocultos dentro da CIA e até mesmo da MI6.

A inovação desse filme é a quantidade de cenários diferentes por onde o agente passa. Áustria, Itália e Rússia são apenas alguns dos lugares por onde Bond deixa um rastro de destruição e morte. Um clima intenso envolve o agente em uma rede de mentiras e traições onde ele não pode confiar em ninguém.

Algo que ficou faltando foi a presença do engenhoso agente “Q”, que sempre mantém Bond repleto de utensílios futurísticos. Sem relógio com corda de titânio, sem óculos com visão de raios-x e sem caneta laser? Poxa esses são assessórios básicos para um agente secreto. E o que é ainda mais revoltante: nada de carro super tunado com carroceria blindado capaz de resistir a explosões, disparar mais de 200 tiros de metralhadora e sem despejar óleo na pista. Talvez o governo secreto britânico já tenha sido atingido pela crise econômica.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Quando games deveriam permanecer como são


Não é segredo que Hollywood sempre se aproveitou do sucesso de outros para ganhar mais dinheiro. Transformar HQs, livros, peças de teatro e musicais em longas metragens é de praxe todo ano. Mas quando os projetos são absurdos o ideal seria que os fãs fossem às portas dos estúdios para jogarem pedras em quem teve a idéia, nesse caso Jonh Davis, o produtor de Eu, Robô e Alien Vs. Predador.

A última grande idéia foi trazer o jogo de maior sucesso dos anos 80, The Sims, para as telonas, previsto para agosto de 2009. Nesse game de simulação o jogador cria um personagem e o ajuda a resolver problemas de seu cotidiano, como arrumar uma promoção no trabalho, ao mesmo tempo em que mantém a casa em ordem. As diversas expansões lançadas após o sucesso do game fizeram com que os fãs fossem a loucura.

No filme, um garoto e alguns amigos conseguem colocar as mãos em uma dessas expansões, a The Sims Infinity Pack. Depois de algum tempo jogando os garotos reparam que suas ações no jogo interferem no mundo real. “Além das mudanças na realidade, um dos personagens do jogo pode sair do jogo”, disse Davis em uma entrevista para um dos repórteres do canal E! no último dia 21.

Esse é o tipo de filme que vai fazer os fãs gritarem de raiva ou pularem de alegria. Eu particularmente não sou muito fã da idéia. Mas se nenhum homem aparecer preso ao redor de uma simples cerca de quintal, se urinar e depois morrer de fome para que a Morte em pessoa venha buscá-lo, então o filme não merece ter o nome The Sims.

sábado, 25 de outubro de 2008

A voz dos animais demorando a ser ouvida

Os maus-tratos contra animais são práticas antigas que duram até hoje. Não é difícil andar pelas cidades sem presenciar ou ficar sabendo a respeito desses atos covardes. Cães que são deixados presos por seus donos em correntes minúsculas sem proteção contra o sol, gatos envenenados por vizinhos e até mesmo lojas de animais que os mantém em gaiolas minúsculas. Diariamente a Delegacia do Meio Ambiente de São Paulo recebe por dia por volta de 12 denúncias de maus-tratos.

O princípio básico para quem adota um animal é conceder-lhe condições adequadas para que este viva sua curta vida de forma mais agradável possível. Mas quando o contrário acontece somente por que seu dono se cansou do animal é algo que chega a ser ultrajante. Quando não se tem mais condições de se cuidar de um animal, seja por razões financeiras ou outra qualquer, a coisa mais humana a se fazer seria encontrar um novo dono para o animal e não abandoná-lo ou mantê-lo em um canto da casa.

Alguns circos se utilizam de animais exóticos para entreter seus visitantes com truques e acrobacias. Mas o que esse público desconhece é o que acontece nos bastidores. O caso mais conhecido é o da gravação de um elefante, capturando ainda filhote, sendo domado. O vídeo em questão, assim como muitos outros, foi distribuído pela AILA, Associação Internacional dos Animais, que combate esses atos hediondos.

Mesmo assim os piores casos são aqueles que são de conhecimento do público, que simplesmente se senta e aproveita o show. As touradas na Espanha refletem bem esse ponto. O que eles chamam de esporte consiste em espetar o touro, que tem seus chifres serrados, com arpões para que ele sangre até a morte. Caso o animal sobreviva ele volta ao curral onde tem sua pele cortada para a retirada dos pedaços de metal alojados em seu interior. Todos esses procedimentos feitos sem anestésico algum.

O Brasil é o campeão de maus-tratos. O Estado de Santa Catarina pratica a festa que chamam de Farra do Boi. Nessa festa as pessoas se divertem ao colocar o touro para correr pelas ruas enquanto o espancam com pedaços de madeira, ferro ou com o que estiverem segurando no momento. O diretor do Ibama, Roberto Borges, chegou a visitar Santa Catarina, descobrindo que a prática não se resumia mais a Semana Santa, como era antigamente. Ele enviou um relatório sobre o assunto diretamente para Brasília, pedindo que alguma providência fosse tomada. Antes do caso ser arquivado foi cogitado um boicote contra o turismo da região como forma de pressão contra essa prática.

Quando nem mesmo o governo toma providencias a respeito desse assunto resta ao cidadão encontrar uma forma de ajudar. Ações como denunciar o agressor ou tomar o animal aos seus cuidados já são um começo. Agora é esperar e ver quantos mais animais vão ter de sofrer antes que as devidas providências sejam tomadas.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

No filme do monstro fui tachado como tal

Realmente segundas-feiras não são muito agradáveis. Pode ser pelo fato de termos aproveitado ao máximo o fim de semana ou simplesmente por que no fundo desejamos que o ar pesado trazido pelo trabalho ou pelo estudo demorasse mais um pouco para voltar, mas é certo que sempre irão existir dias que conseguem nos atingir. E justamente no dia 25/02, segunda-feira, foi um desses dias pra mim. Tudo pelo fato de ter aceitado um simples convite para ir ao cinema.

Antes mesmo de entrar no cinema eu e meu atual ficante, Matheus, fomos acometidos por todos os olhares dos que estavam presentes no interior do shopping. Parecia que eles nunca haviam visto duas pessoas se cumprimentarem com um simples beijo. Ao dar o horário fomos até a bilheteria e entramos na sala onde iria passar o filme escolhido: Cloverfield, Monstro.

A ver que a sala estava completamente vazia eu pensei, menos mal um pouco de paz e sossego. Mas, é como dizem, felicidade de pobre dura pouco. Logo em seguida dois casais, por volta de seus 25 anos, entraram na sala falando alto e dando risada. Ao nos ver sentados e ao reparar que estávamos de mãos dadas já viramos o alvo dos comentários. Por mais que eu seja uma pessoa centrada chega uma hora que não dá mais para agüentar. Ao perceber meu estado Matheus deu o primeiro passo para tirar satisfação. Os dois rapazes riram e desconversaram, mas a melhor resposta foi de uma das garotas. Ela disse: Não somos preconceituosos, só não aceitamos o fato de “vocês” estarem aqui dessa forma. Como se nós dois fossemos como o monstro que mais tarde apareceria na telona.

Dizer que não é contra ao homossexual, mas a homossexualidade não muda em nada, é apenas um trocadilho para não assumir o preconceito. O homossexual não precisa do perdão ou da aprovação da religião para vivenciar sua sexualidade. É como dizem: ninguém impede ninguém de ser o que é e ninguém parece impedir ninguém de ser diferente do que é, mas pode dificultar. O choque da união homossexual vem do social, que formata as mentalidades para com qual gênero e sexo biológico devam sentir prazer e se acasalar. O homossexual é esse “estranho” que não chega nunca, que não se fixa e que desassossega o social com seu potencial de metamorfose que pode oscilar entre o masculino e o feminino. O gay é para o heterossexual uma cópia da cópia, e não uma cópia do original. E em países de cultura machista os homossexuais são discriminados e perseguidos e, muitas vezes, levados à morte.

As sociedades permitem ao homossexual uma concessão mal definida, mas não o direto de igualdade, a exemplo de que não é livre para expressar em público, dentro dos limites que são permitidos aos heterossexuais, os seus afetos. Se divertir com o gay caricato, como, por exemplo, em programas como Zorra Total e A Praça é Nossa, não significa tê-lo aceito como cidadão, que ainda luta pelo essencial modo de viver: sem opressão, casar, adotar filho, etc. O perceber-se homossexual, em geral, é um processo lento de luto, com revolta, culpa e negação, bem como de tentativas para cumprir seu dever de macho viril e reprodutor, que a esse papel está condicionado.

No cotidiano das sociedades a homossexualidade, por vezes, parece um “mau” que tem de ser extirpado porque denuncia uma “falta genética” da espécie humana. Se a heterossexualidade dita normal, aprovada e promovida é um manancial de desencontros e complicações; a homossexualidade que é condenada não poderia deixar de ser, de algum modo, afetada. Considerado o contexto da sua ilegalidade, até que não seria de se estranhar que a mesma fosse, de fato, anormal.

Quanto mais inseguro da sua masculinidade, mais o heterossexual evita contato seja formal ou de amizade como o homossexual, discrimina e, por vezes, o persegue. Imagina o que os outros possam vir a pensar dessa proximidade, acreditando que todo homem desperta tesão no homossexual, e ele próprio teme que possa vir a sentir algum desejo homoerótico. Para afastar estes fantasmas usa o homossexual como saco de pancadas para resguardar sua masculinidade. Quando mais ataca mais se desvencilha das dúvidas que o corroei. Portanto, a aversão é a saída para se garantir de qualquer risco.

Este país é tido como liberal, entretanto imoral é o “beijo gay” que jamais foi mostrado na telinha. Isto seria, por demais, agressivo à sensibilidade do telespectador, que tem estômago para ver e sentir a violência no seu dia-a-dia, mas não a manifestação do amor pelo viés da homossexualidade. O mais grave não é o fato de mostrar ou não. Mas de criar expectativa e, depois, apenas insinuar. Assim, inscreve a homossexualidade na “anormalidade”. A concessão social somente permite tal “indecência” na avenida, em clima de carnaval, no Dia do Orgulho Gay. Talvez o orgulho esteja no fato de que nesse dia pode beijar.

Enquanto caricato o homossexual é tolerado, pois é um “não homem”, um “homem em falta”, e assim atenua a afronta, e acentua o abismo das diferenças. Uma maior visibilidade, não quer dizer aceitação, ou que o homossexual deixou de ser discriminado. Caso fosse, o Brasil que tem a maior passeata gay do mundo, não séria também “o campeão mundial de assassinatos de homossexuais”.

Uma vez que se considera que a relação homoerótica teria de reproduzir o modelo heterossexual dominador/dominado, onde um representaria a mulher (passiva) e o outro o homem (ativo). Finalmente, as referências utilizadas para se fazer reféns de preconceito não tem consistência, mas funcionam muito bem para esse fim. Porém, o preconceito contra o homossexual é cíclico, ora mais sutil ou simbólico; ora mais corrosivo, mediante o contexto social e político. Mas, não acaba nunca porque “a homossexualidade é a expressão de uma tendência universal existente em todos os seres humanos, decorrente de uma predisposição bissexual enraizada”. Daí a homofobia. Somente o direito de igualdade, punição à discriminação, exemplos de decência dos discriminados, e pesquisas, poderão depurar essa desagradável situação em gerações vindouras. Do contrário, o homossexual será o eterno excluído porque a construção da masculinidade é insustentável.

Pelo menos o lanterninha do Cinemark ficou do nosso lado e ameaçou retirar da sala os dois casais caso eles não se retificassem conosco. Se pelo menos mais pessoas respeitassem as escolhas dos outros nós poderíamos viver em um mundo melhor.